sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Admirador Secreto

Ela não era a mais linda da classe e justamente por isso, estava ansiosa. Qualquer uma poderia ter sido escolhida, porque ela?
Desde pequena não pode dar-se ao luxo de ser vaidosa. Carregava nas costas o peso de ajudar a criar os irmãos menores.
Seu pai a muito fora embora deixando sua mãe sozinha. A ela, por ser mais velha, cabia o papel de ser a verdadeira mãe dos garotos. Com uma vida assim, ficava difícil pensar em se maquiar para ir para a aula, e nunca sobrava dinheiro suficiente para comprar roupas novas e da moda, fazendo com que nossa garota se sentisse sempre muito apagada junto aos demais de sua idade. Enquanto tantos lutavam para atrair atenção e serem notados pelo que aparentavam, ela só queria ser feliz e poder ser uma jovem normal.
Nunca tivera sorte no amor. Achava-se feia, sem sal, jamais um cara legal a notaria. Mas Alguém notara.
Estava lá no meio de seus cadernos, um bilhete com juras de amor e uma promessa de que na hora certa ele se apresentaria. Achou que era só uma brincadeira de mal gosto dos demais colegas que não perdiam a oportunidade de caçoar dela, resultado: o papel foi jogado no lixo.
Mas mais bilhetes apareceram. Ela tentara de mil formas descobrir quem era, perdendo muitas vezes o intervalo, mas não adiantava.
Aos poucos, ela foi gostando daquilo. Ter alguém que a notara e gostava dela fazia com que ela se sentisse melhor, como se não estivesse sozinha contra o mundo em sua batalha diária.
Nas horas vagas ficava imaginando como ele seria. Se fosse baixinho, seria ruim, pois ela se sentiria desconfortável e provavelmente sentiria dor nas costas por se curvar para beijá-lo. Se fosse alto, seria legal, pois ela achava que homem deveria ser maior que a mulher igual ela via nas novelas, mas de jeito algum deveria ser muito alto, pois assim, ele logo a largaria por causa da dor nas costas. Se fosse loiro seria bem legal, mas ela preferia os morenos. Ficou um bom tempo pensando se um cara de pele escura beijaria bem melhor que os outros e prometeu a si mesma que um dia ficaria com um mulato para saber se era bom.


Será que era forte?
Que usava óculos?
Que jogava futebol?
Que tinha muito amigos?


Certa vez na saída da aula, um rapaz se levantou e esbarrando com ela, disse baixinho ao pé do ouvido:
- Você é tão cheirosa quanto eu imaginava!
Ela ficou tensa e não conseguiu esboçar reação alguma quando o rapaz foi se afastando deixando ela com o coração a ponto de explodir boca afora.
Finalmente ele se revelara!

No dia seguinte ele não fora a aula, e nem na semana seguinte. Ela estava triste e coma certeza que nada no mundo era pra ela. Finalmente encontrara um cara romântico, bonito e que estava interessado nela e ele desaparecera. Já aceitava a derrota amorosa e jurava para si mesma que nunca mais se entregaria a paixões levianas assim. Coisa de menina!
De volta à monotonia do seu dia, das responsabilidades sufocando e nada de bom para se viver.

Um dia ele reapareceu no final da aula. Disse que não estudava mais naquele horário, pois seu pai resolvera que o outro seria melhor para seus estudos, mas prometera que assim que desse voltaria para vê-la. Virou as costas e correu para o carro sem olhar para trás. Novamente ele ia embora a deixando sozinha, mas desta vez com esperanças de que se veriam novamente.

Mais uma longa espera...

Outro bilhete em meio aos seus cadernos:

“Podemos nos ver hoje no bosque da Escola”?
Lá pelas 17 hs. Por favor, apareça, pois não sei quando poderemos estar juntos novamente!

Com Amor,
.................... “

Ela esperou! Esperou fazendo mil orações, com medo que ele não aparecesse. Que fosse zoação, que de uma hora pra outra todos que caçoavam dela surgissem detrás das arvores dizendo que novamente ela fora enganada. Que ele não ia chegar, que ele poderia ser atropelado pelo caminho, que ele encontrou outra e com ela foi morar e muitas outras coisas que só faziam aumentar sua angustia.
Ele estava meia hora atrasado e ela já aceitava o abandono.
Triste, chorando, resolveu ir embora junto com o pouco de dignidade que ainda restava.
Mas eis que ouve alguém gritando seu nome. Com as lágrimas molhando o rosto ela se vira e vê seu amado correndo em sua direção. Quando chega perto dela, ele toma um pouco de ar, mas já vai logo pedindo desculpas pelo atraso. Que infelizmente não conseguiu carona e o ônibus atrasara.
Ela limpava as lágrimas, rezando para que ele não visse. Escondia a alegria dele estar ali, atrás de uma máscara de irritação pelo atraso. Mas ela não agüentou manter as aparências por muito tempo. Afinal, ele a pegara em seus braços e ela se entregara.
No ultimo momento ainda teve forças para perguntar por que ele não se revelara antes, porque se escondera por tanto tempo.
Sem pestanejar ele apenas disse:
- Eu tinha medo que você não gostasse de mim, afinal, você era a melhor dentre tantas, era única para meus olhos.
É... amar nunca é fácil e tranqüilo em qualquer idade. Ele para, tira o mp3 do bolso e coloca nos ouvidos dela. Uma música antiga envolve o ambiente:

“... Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

I feel fine and I feel good
I'm feeling like I never should
Whenever I get this way, I just don't know what to say…”




Vão os dois embora, de mãos dadas, sorrindo em toda a felicidade que ambos merecem, afinal, às vezes, o amor dá certo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que gracinha de texto, Jardel! ^^

Peq. disse...

Lindo como os outros Jardel !

Mayra disse...

A primeira a ler???ameiiii...lindo como sempre