terça-feira, 6 de julho de 2010

Planos*

Arrombaram a porta da frente hoje. A luz entrou cegando meus olhos. Eles chegaram perto e comecei a lutar. Sim, um moribundo consegue, e eu lhe digo de verdade, lutei, mesmo querendo estar morto. Sei lá é instinto, mas usei mãos e braços e lutei como não podia. Quebrei três dedos no processo e desloquei o ombro. Ouvi gritos e algumas pessoas me carregando para fora. Me amarraram em uma maca, me deram uma injeção e eu dormi.

Muitas luzes, muitas agulhadas e eu ainda amarrado.

Recuperei a consciência aos poucos. alguns amigos, meus pais, minhas irmãs.

Me lembrei que ela tinha morrido e quis ir junto dela. Lutei, rasguei as amarras que me prendiam e tiveram que chamar todos os enfermeiros disponíveis para em acalmar novamente.
Me deram muitos remédios e disseram que para mim não havia volta. Muito tratamento, e decidiram me internar em uma clinica psiquiátrica.


Mais remédios, e eu ficava cada vez pior. Era uma vida nebulosa. Eu engordava e quando os remédios faziam efeito eu só ficava esperando ela aparecer. Era como se nada estivesse acontecendo, e ela só tivesse saído para ir ao mercado e voltaria.


Mas sempre que os remédios paravam de fazer efeito eu voltava a lembrar dela e aquilo me matava mais ainda. Não sei como aguentava cada dia. Estava louco para sair de lá...


E sempre me lembrava que sair era voltar para minha vida vazia sem ela.


Um ano que ela morreu e me levaram ao túmulo dela. Aquele lugar onde chorei até minhas lágrimas secarem. Estava como um vegetal até chegar lá, mas ao ver seu nome na lápide, meus olhos se encheram de lágrimas novamente os remédios pararam de fazer efeito. Todo o desespero de não tê-la mais voltou à tona e eu caí novamente. Mais nebulosidade.

Me tiraram da clínica. Alguns comprimidos diários, visitas a psicólogos e eu estaria bem. Voltei a trabalhar e a morar com meus familiares. Mas eles não viram quando juntando um pouco das minhas economias eu comprei uma arma. seria logo que estaria junto dela...


JArdel Maximiliano

* Alguns personagens crescem, tomam conta, ocupam um grande espaço em minha cabeça, tomam controle. è exatamente o que aconteceu com este nosso amigo. Não quis terminar sua história no texto anterior, veio atormentar cá meu pensamentos e exigir que toda a história fosse contada. Mas fiquem tranquilos que logo, logo ela vai acabar!

1 comentários:

Anônimo disse...

Cordiais saudações, Rapazes

Eu sou uma fêmea como tantas outras que lambem este blog. A diferença talvez seja o fato de como recebo vocês, suas idéias, histórias e devaneios na minha vida.
Gosto do humour sarcástico, da “teatresca” fragilidade, da sensibilidade quase parnasiana que concebem o amor, a vadiagem e as mulheres. E, confesso, muito admiro o jeito rústico de emprenharem com a caneta seus caderninhos surrados (imagino) para depois parirem no Manual seu rebento ‘poeticamente’ correto.
Já tem um tempo que tenho vontade de escrever-lhes, mas a coragem nunca vinha. Na verdade nunca tive nada pra falar-lhes como nunca terei. Penso que o que me acontece é só esse afã incomensurável de ser, como vocês, lida por outrem. O grande problema é que eu não tenho nada pra contar. Nem noitadas, nem paixões avassaladoras, nem viagens com a galera da faculdade, nem nadica de nada interessante para ser exposto no ciberespaço.
Acabei de rasgar meu último diário e ainda estou me adaptando com essa cabeça que não é de uma menina e nem de uma mulher. Durante dezenove anos vividos o que posso dizer que possuo é só mais perguntas idiotas sobre a vida e que nunca serão racionalmente respondidas. Estou sem identidade e isso me aflige por demais.
Mas deixa pra lá. Bjux e estou esperando o próximo post.