sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Bela na Noite

Mais um copo de bebida. Já era o décimo e ele já havia misturado todas as bebidas da festa. Não se importava nem um pouco com a ressaca de amanhã. A grande batalha deveria ser vencida hoje e ele não fugiria.

Ela dançava no meio da pista atraindo a atenção de todos. Nosso herói observava hipnotizado aquele momento e mais de uma vez perdeu o fôlego diante da beleza da cena. Se tivesse um desejo, ele teria pedido ela! Mas agora ele tentava aguentar a falta dela com a bebida.

A cerveja já não fazia mais efeito aparente e ele começou a pedir bebidas cada vez mais fortes, sem se importar com os gastos na boate. E cada dose fazia o mundo ficar melhor.

Sentiu crescer no peito a coragem que a muito o havia abandonado. Mas aquela situação era complicada. Por mais que ele se sentisse confiante naquele momento, ainda tinha uma certa relutância em ir até ela.

Qualquer homem ao observar a cena notaria os motivos que deixavam aquele sujeito em dúvida. A moça dançava como se fosse a dona do mundo. O planeta girava na velocidade que ela queria. Cada giro, volta e movimento era para controlar a tudo de acordo com a sua vontade. Um passo em determinada direção e os homens se jogariam aos seus pés, largariam tudo, venderiam casa, carro tudo para satisfazer seus desejos. ela sabia bem como ter tudo o que queria e justamente por isso quase sempre se sentia vazia. Vazia e solitária. Podia tudo e justamente por isso nada tinha graça. Era incapaz de sentir nada por aqueles ao seu redor. Só senti aprazer em moldá-los, controlá-los.

Obviamente ele não sabia disso. Ele só sabia que para ir até ela e tentar algo era um ato que merecia no mínimo mil canções. Seria algo para contar para seus netos em uma noite quente dalí a 50 anos. Ele diria até que isso merecia ser colocado em qualquer currículo que ele escrevesse para tentar qualquer emprego. Seria o ato de sua vida.

Faço uma pausa em meu relato para explicar aos que acham que ele está exagerando, mas apelo para a memória de vocês para justificar as atitudes e pensamentos dele. Lembrem-se de como era estar a fim de alguém. Aquele desejo verdadeiro. Aquela pessoa que te roubava o ar ao aparecer. Imagine aquela que seria capaz de alegrar o pior dos teus dias. Agora imagine-se indo até esta pessoa e dizer que você está a fim dela. Que deseja seus beijos. Imagine fazer isso diante de um monte de pessoas que estão com a atenção voltada para o que você fará. Imaginem que vocês farão isso daqui a poucos momentos...

Mas vejam, ela lá rodeada de pretendentes e nosso herói bebendo. Ouvia as palavras de incentivo do seu melhor amigo para que tentasse algo logo, pois ficar naquela situação é que não podia. Xingava, apelava, oferecia mais bebida, tudo para que o cabra tomasse logo coragem de ir até a garota. Por mais que o amigo tivesse a certeza de que aquela seria uma tarefa que beirava o impossível, mas sabia também que para os Canalhas Sentimentais, o impossível é derrubado no exato momento em que você perde o medo de ousar. Inúmeras vezes puderam comprovar isso, mas sempre fica lá no fundo aquele medo enraizado, aquela parte que nos torna humanos e que não deixava que eles se tornassem conquistadores baratos.

Uma dose de pinga, talvez a 7ª, mas quem é que estava contando? Enfim, sabe aquele momento em que você joga todas as suas fichas na mesa e aposta alto, BEM ALTO? Foi o que ele fez. Foi em direção a ela. Ao circulo que foi feito em torno dela. Só ele ousou ultrapassar o espaço que fora deixado por todos para que ela continuasse dançando em todo o seu esplendor.

Mas vejam, ele ousou tanto que chegou dançando!

Tocava um samba dos bons, daqueles que a tempos ninguém fazia. E ele foi lá sambar...

Todos ficaram revoltados com aquilo, ele perturbara o espaço dela, espaço que era só DELA!

E ela ficou admirada, que sujeito era aquele que a desafiara daquela forma? De onde ele tirara a idéia que poderia sambar tão bem quanto ela? Ela aumentou o ritmo, fazia passos complicados, queria vencer o coitado pelo cansaço1

Imagina um sujeito que é jogado no meio da fogueira e lá tem que improvisar para se safar?
Era aquele cabra que resolvera ir sambar ao lado dela, que ousara sambar ao lado dela. Cometera tal ousadia e de modo algum ela facilitara o processo. Sambava e rodava como um ser sobrenatural e naquele ritmo venceria qualquer um. Ele estava cansado e sem fôlego já, mas ela cruel ousava e exigia cada vez mais gingado...

Ela estava admirada como aquele trapo (igual a todos os homens são diante dos seus olhos) ainda aguentava o tranco do seu gingado. Mas até que ele sambava bem, mas não aguentaria muito. Logo, logo desistiria...

Morto, era assim que ele estava, já aguentara muito, ousara demais gastar o samba que tinha tentando se equiparar àquela Deusa. Seria uma vergonha desistir, mas ele não tinha qualquer saída. Ele deveria logo entregar os pontos e se dar por vencido, mas teve uma idéia.

Quem estava presente viu que o sujeito não tinha esperanças. Ela dominava o jogo e fazia as regras. Mas ele, ousado, a puxara para dançar. De corpo colado, olhando nos olhos, mantendo o gingado do samba. Parecia que ambos nasceram para aquele momento. Um encaixe de corpos, movimentos exatos, dançando cada vez melhor. E para coroar, ao acabar a música, se olharam diretamente e se beijaram...

Ele chegou em casa somente às 10 hrs da manhã do dia seguinte...

Ela ao deixar que ele fosse embora ficou com aquela vontade de tê-lo de volta logo..

.. e ambos tinham aquele sorriso bobo na cara. Aquele sorriso que somente os vencedores e ousados da noite conseguem ostentar...