quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Fulana

A imaginação dos homens é povoada por fulanas. Mulheres ideais, que povoam as rodas de amigos, o intervalo de futebol de rua dos muleques ou a cerveja de fim de semana. Por que as fulanas são coletivas, criadas através dos boatos, das lendas e imaginação de homens e meninos em todo o mundo.
São aquelas mulheres que fazem coisas inacreditáveis, são aquelas pernas de louça das moças que passam e não podemos tocar. Fulanas de alegrias e tristezas. Fulanas que instigam a conquista e fulanas que fazem o coração doer tanto, que era melhor nem ter coração, como a tal fulana.
Mas, apesar de tudo, fulanas são de carne e osso... e que carne! Possuem R.G., CPF, telefone, endereço e tudo mais. O que faz uma fulana, não são coisas a menos, mas coisas a mais. São fulanas, por que prendem nosso interesse, nossa atenção e nossa curiosidade.
Como são reais, as fulanas, seguem uma linha no tempo, ganham experiência, se tornam mais completas. Para os pré-adolescentes, a fulana já beija. Menina avançada pro próprio tempo. Muitas vezes, essa fulaninha, já tem algumas formas de mulher... os seios que, mesmo pequenos, já marcam a blusa, a cintura que se destaca curvilínea e o quadril, que não precisa de maiores detalhes. E por falar em quadril, depois que já experimentamos o primeiro beijo que espetacular é aquela fulana que, dizem, deixa passar a mão na bunda. E nosso colega mais ousado volta triunfante contando a façanha, dizendo o quanto é feliz por ter mãos e ser homem, quando na verdade é só um menino e tremia como vara verde diante a desenvoltura da garota, tão mulher.
O tempo passa, a primeira vez acontece e as coisas não são tão surpreendentes quanto eram. Claro que existem mulheres especiais. Possuem seus segredos, suas táticas. Levam homens a loucura, deixam-nos sem chão. Mas o poder do mito é apenas para algumas.
_ Fulana fica com fulanas.
Meu Deus, como pode existir uma mulher assim? Tem consigo o poder de realizar a fantasia de tantos homens. Não que ela vá realizar, ou que tenha mesmo interesse por ‘meninos e meninas’, mas a curiosidade, a capacidade de posar de fulana é que fala tão alto.
Daí, de fulanas em fulanas, vamos envelhecendo. Às vezes é uma fulana que dança muito bem, às vezes é uma fulana que fala marxismos, como a de Drummond. Mas são todas fulanas, são quase intocáveis. Bem, na verdade, são possíveis de se tocar, mas a essência da fulanisse é o mito e, sinto informar, mitos se desfazem no ar.
É então que aparece sicrano em nossa história. Sicrano é mais um qualquer, sem nada de especial. É difícil demais um sicrano se destacar num mundo de fulanas, mas, como o mundo é caixinha de surpresas, sicrano chamou a atenção de fulana. O que essa tem essa fulana? Fulana é linda... daquelas que fazem os homens pararem com seus afazeres. Do tipo que Caymmi nos disse que “mexe com as cadeiras” e acaba mexendo “com o juízo do homem que vai trabalhar”. Sicrano realmente teve sorte.
Como ele não cometeu nenhum grande erro, fulana se entregou a sicrano e blá blá blá. O lógico seria fulana se desmanchar. Todos os efeitos e mitos de fulana caíriam por terra e ficaria só Maria, ou Patrícia, ou Juliana, Cristina... mas não, Fulana [essa com F maiúsculo mesmo] permaneceu fulana.
Todos os pequenos defeitos, todas as fraquezas de Fulana só serviram pra transformar Fulana em mais FULANA. Claro que sicrano ficou impressionado com aquilo. Fulana ria e sicrano sorria junto, todas as expressões de raiva, as pequenas chantagens e até mesmo os grandes dramas só mantinham a fulanisse daquela que poderia ser uma simples Gertrudes. Sicrano não tinha explicações sobre o fato. Talvez fosse o momento, talvez fosse uma questão inconsciente lá da fase edípica, ou sabe-se lá mais o que. Podia ser tudo junto, mas, sinceramente, sicrano dá pouca atenção a qualquer uma dessas coisas. Com uma fulana como essa no mundo, sicrano não precisa de explicações.